Nem mesmo a morte do Pelé provocou a divulgação maciça e efetiva desse câncer, que é o segundo que mais mata no Brasil e no mundo
O Março Azul Marinho, que trabalha a conscientização do câncer colorretal, conhecido também por de intestino, ainda é pouco divulgado nos meios de comunicação, porém as estatísticas apontam um cenário grave, no qual só as informações científicas traduzidas para à população em geral podem atuar efetivamente. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima cerca de 45 mil casos anuais de câncer colorretal para o triênio de 2023 a 2025, no Brasil. Em 2022, foram registrados cerca de 20 mil óbitos no País. Há projeções ainda mais severas que apontam que o Brasil atingirá cerca de 80 mil casos da doenças nos próximos anos. No Brasil, o câncer de cólon e reto ocupa a segunda posição entre os tipos de câncer mais frequentes entre homens e mulheres, ficando atrás apenas dos cânceres de mama e próstata. è também ´tipo que mais mata no Brasil, cujo ranking é liderado pelo câncer de pulmão. (Veja ranking abaixo).
De acordo com as estatísticas científicas, os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, tendem a apresentar maior número de novos casos desse tipo de câncer a cada ano. Entre os norte-americanos, que têm população em torno de 300 milhões de habitantes, a estimativa é de surgimento de 150 mil novos casos anuais. Causa da morte de do Rei Pelé, em dezembro de 2022, o câncer colorretal resulta em 900 mil mortes anuais no mundo, atrás apenas do câncer de pulmão, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).

(Fotos; Banco de Imagens/Pinterest.com)
O médico gastroenterologista responsável pelo Serviço de Endoscopia do HRP-Unicamp, Rodrigo Azevedo de Oliveira, afirma que uma combinação de fatores é o responsável pelo aumento de casos no Brasil. ” Em primeiro lugar, está associado ao envelhecimento da população, já que o câncer ocorre mais frequentemente em indivíduos acima dos 50 anos. Reflete também hábitos de vida dos brasileiros, como altos índices de sedentarismo, consumo de álcool, tabagismo, obesidade e uma dieta com alto consumo de carnes processadas em detrimentos de frutas e vegetais frescos. Ainda, devemos citar a melhoria dos serviços de saúde, com diagnósticos mais precisos”, explicou Oliveira, também médico-titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva.
A equipe do Departamento de Comunicação (Decom) conversou com o médico, que também é membro da associação internacional da American Society for Gastrointestinal Endoscopy, e esclarece um pouco dessa doença que mata mais que
Decom – Dados de um estudo da Global Burden of Disease, realizado em 22 países e publicado em 2022, foram cruzados com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). Os resultados apontaram que países com baixo IDH registraram menor índice de mortalidade por câncer colorretal. A alimentação superprocessada seria a explicação desse apontamento?
Oliveira – Novamente há múltiplos fatores atuando aqui. Sim, a menor exposição a alimentos superprocessados, especialmente carne vermelha processada, nestes países menos desenvolvidos é fator relevante. Porém, destaca-se também o baixo acesso a serviços de saúde de qualidade, gerando dificuldades no diagnóstico e subnotificação dos casos e óbitos pelo câncer colorretal.
Decom – Quais os principais sintomas da doença?
Oliveira – Portadores de câncer colorretal podem apresentar sangue nas fezes, anemia, perda de peso, fraqueza, alteração recente do hábito intestinal, às vezes com alternância entre diarréia e constipação, fezes afiladas e dor abdominal. Importante mencionar que esses sintomas não são específicos do câncer do reto e intestino e podem estar presentes em outras condições de saúde. Por exemplo, o sangue nas fezes pode estar relacionado a inflamações do intestino ou até mesmo a hemorróidas. De qualquer forma, a presença desses sintomas deve levar o indivíduo a buscar atendimento médico imediato.
Decom – O câncer colorretal acomete mais homens ou mulheres? Qual o perfil dos doentes?
Oliveira – A maioria dos portadores deste tipo de câncer tem mais de 50 anos. Homens e mulheres são acometidos, com prevalência ligeiramente superior no sexo masculino, embora a tendência seja de equiparação. Pessoas com histórico familiar de câncer intestinal têm maior risco de desenvolver a doença.
Decom – Como é feito o diagnóstico? Como se dá o tratamento?
Oliveira – O diagnóstico é feito pela colonoscopia com biópsias da lesão. O tratamento depende da fase na qual o câncer é diagnosticado. Em etapas muito iniciais, pode ser feita a retirada endoscópica da lesão, na própria colonoscopia. Quando isso não é possível, mas o tumor ainda está localizado, a cirurgia é o tratamento de escolha. Em muitos casos, uma complementação com tratamentos oncológicos como a quimioterapia e radioterapia se faz necessária e isso pode ocorrer depois ou até mesmo antes da cirurgia. Assim, a escolha do melhor tratamento varia de uma pessoa para outra.
Decom – Qual o percentual de cura?
Oliveira – A chance de cura depende diretamente do estágio da doença, ou seja, do momento em que ela é diagnosticada. Estágios iniciais, com câncer restrito a camadas mais superficiais da parede intestinal tem altas chances de cura, enquanto lesões mais avançadas, que invadiram toda a parede e outros órgãos tem possibilidades de cura mais limitadas.
Decom – Em sua opinião, qual a importância de campanha como Março Azul Marinho?
Oliveira – O Março Azul é uma campanha fundamental para conscientizar a população e sensibilizar os profissionais de saúde para a prevenção e combate ao câncer colorretal. Buscamos alertar as pessoas sobre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença e quais são as estratégias para evitá-la ou fazer um diagnóstico o mais precoce possível.
Decom – Quais os serviços que o HRP-Unicamp dispõe para tratar câncer colorretal?
Oliveira – O Hospital Regional de Piracicaba conta com serviço de Cirurgia Geral e Coloproctologia para o atendimento aos pacientes, além da equipe de Rndoscopia, que atua ativamente na detecção deste tipo de câncer e até mesmo no tratamento de lesões em estágios iniciais pelo exame de colonoscopia.
Decom – Quais são suas considerações finais, doutor?
Oliveira – Gostaria de ressaltar que, apesar de ser o segundo tipo de câncer mais frequente em homens e mulheres e ocupar a segundo lugar nas causas de morte por câncer, o tumor do intestino grosso e reto é uma doença evitável. Exames como a pesquisa de sangue oculto nas fezes, realizada anualmente e a colonoscopia, indicada a partir dos 45 anos de idade, podem evitar o câncer ou permitir o seu diagnóstico em fases iniciais. Uma ênfase especial deve ser dada à colonoscopia, que tem a capacidade de detectar lesões em sua fase pré-maligna, como os pólipos adenomatosos, que são as lesões que originam a maior parte dos tumores colorretais. Quando essas lesões são encontradas na colonoscopia, elas podem ser retiradas de imediato, evitando assim o desenvolvimento do câncer. Importante também destacar o papel do estilo de vida na prevenção. Hábitos saudáveis como dieta rica em fibras, com consumo de frutas e verduras, evitar consumo excessivo de carne vermelha, praticar atividades físicas, evitar o tabagismo, consumo de bebida alcoólica e obesidade têm papel importante na prevenção desta doença.
Ranking de Cânceres Letais no Brasil
1 – Pulmão, traqueia e brônquio
2 – Colorretal
3 – Mama
4 – Estômago
5 – Prótese
6 – Fígado
7 – Pâncreas
8 – Sistema Nervoso Central
(Fonte: Instituto Nacional do Câncer – 2022)